Uma ladeira e um semáforo que abre e fecha rapidamente impedem o motorista apressado de ver uma pequena sala na Rua Índios Cariris, em Campina Grande. É no número 218 que fica o escritório de um dos maiores especialistas em objetos antigos da Paraíba, o antiquário Mário Lúcio Lima. O espaço parece pequeno, mas comporta tudo: cristaleiras, rádios, radiolas, lustres, penteadeiras, cabides, armários, birôs e até nomaradeiras.
A paixão de Mário é pelos rádios. Eles estão espalhados, empilhados como pequenas caixas tagarelas de variados modelos: um Montreal (canadense), um Campeão ao lado de um Nord Som (ambos fabricados no bairro do Brás, na capital paulista), outro Transbrasil (ABC Canarinho) e até um “moderno” CCE estéreo. Algumas caixas lembram o desenho e o arrojo da arquitetura de Brasília, são pequenos “prédios” com curvas acentuadas.
Há 15 anos no ramo de dar vida nova a aparelhos que na opinião da maioria modernosa não passam de lixo, Mário é um apaixonado pelos objetos falantes: além dos rádios ele também conserta telefones antigos. Com paciência, tal qual uma criança curiosa, ele compra aparelhos bem desgastados e os transforma em novos. Assim, aprendeu marcenaria para fazer sozinho as caixas de madeira, que são verdadeiros ninhos que escondem as válvulas dos rádios.
Em plena era do chip ou da microeletrônica, ele lembra seu primeiro rádio um CCE que ganhou aos nove anos. Mário não esconde a relação entre rádio e infância. Uma nostalgia não o deixa parar. Satisfeito ele atende a outro homem como se brincassem juntos. O homem quer comprar um Cabeça de Índio. Mário explica em ondas curtas, tropicais ou médias, num tempo em que as elites vivem um consumismo sem limites, que os rádios antigos são peças únicas. O comprador confessa que se lembrou do pai ao ver os rádios expostos. O antiquário pacientemente explica que os objetos trazem ao espectador lembranças, subjetividades, transportando-o para um lugar perdido no tempo, a voz da infância. Vivemos no topo de uma revolução informacional, das web rádios entre outras novidades mas o bom e velho rádio será sempre o meio preferido de diversão e comunicação. “Quando surgiu a Tv todo mundo dizia que o rádio iria morrer. Veio a tv, a tv colorida, a estéreo, a tv de plasma, a digital e o rádio está vivo, vivinho!”
Pergunto o que ele acha das músicas que tocam hoje em quase todas as emissoras comerciais. “Sinceramente, prefiro a velha guarda, um Nelson ou um frevo de Capiba, tudo tem sua cadência.”
Saudosista, Mário segue assim sintonizado com seu tempo...